Formatura e Aula Inaugural da Bituca

Por Lido Loschi

Era uma terça-feira de março, comum, sem propósito. De repente, mormaço, ameaça de chuva, corre-corre, passagem de som, marcação de espaço, ensaio geral. Apreensão, expectativa, frio na barriga, enfim tudo pronto, ou quase tudo pronto para aquela noite de março onde novos músicos iam se lançar, se apresentar juntos pela primeira vez, exibindo, além do talento, toda a técnica apreendida em dois anos de dedicação.
Os mestres, orgulhosos, divididos, se despediam dos formandos e acolhiam a platéia de novos aprendizes que traziam os olhos vidrados, ávidos de saber.

A casa, palco escolhido para esse encontro, abriu portas e janelas, e esperou, impassível, que o público se acomodasse. Aos poucos, um silêncio, as luzes desvendando o palco, sons de teclado, piano, teatro, tambores, violões, sax, personagens, sonho, fantasia, baixo, bateria, canto, alegria, flauta, clarineta, ouvidos atentos, olhos encantados e a casa subia, lentamente batia portas e janelas, plena de música e magia a casa levitava, sorria.

Ao final, mestres, aprendizes, novatos, convidados, vinham dar graças. Graças à vida, graças ao grupo, graças ao talento, graças àquela terça-feira de março que talvez nem existisse, não fosse a gana de sonhos, o desejo insano de criar, de inventar, não fosse a eterna busca e a inquietude que habitam a alma dos artistas.