O sucesso da apresentação de Drummond foi tamanho, que decidimos repetir a dose! No dia 1 de maio reapresentaremos Drummond em Barbacena, no Teatro do Colégio Estadual. Não perca!
Leia a crítica de Marcos A. Ramos
Nossas tantas poéticas de/ em "Drummond "
Em 1987, sob a direção de Regina Bertola, o Grupo Ponto de Partida estreou o espetáculo “Drummond”. Aclamado por críticos como Dinorath do Valle, Roberto Massoni e Alberto Guzik, o espetáculo, durante os 10 anos próximos, foi motivo de exaltação por onde passou – Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Juiz de Fora, Itabira, Barbacena, entre outros.
Mais de 20 anos depois, o espetáculo “Drummond” volta ao tablado e destila em ribalta toda potência da palavra poética. Sim, é a palavra poética, o verso drummondiano, que orienta os caminhos do espetáculo. De imediato, chama atenção a destreza do encadeamento textual – amarração dos poemas, silêncios, gestos, imagens e sons. “Drummond” não é um espetáculo pós-moderno, de fragmentos ou desconstruções. Mas é a partir do próprio fragmento poético que se criou uma malha (e não um mosaico, pois nesse identificamos limites e costuras) propulsora da experiência poética – por isso nova e ousada.
Em 1987, sob a direção de Regina Bertola, o Grupo Ponto de Partida estreou o espetáculo “Drummond”. Aclamado por críticos como Dinorath do Valle, Roberto Massoni e Alberto Guzik, o espetáculo, durante os 10 anos próximos, foi motivo de exaltação por onde passou – Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Juiz de Fora, Itabira, Barbacena, entre outros.
Mais de 20 anos depois, o espetáculo “Drummond” volta ao tablado e destila em ribalta toda potência da palavra poética. Sim, é a palavra poética, o verso drummondiano, que orienta os caminhos do espetáculo. De imediato, chama atenção a destreza do encadeamento textual – amarração dos poemas, silêncios, gestos, imagens e sons. “Drummond” não é um espetáculo pós-moderno, de fragmentos ou desconstruções. Mas é a partir do próprio fragmento poético que se criou uma malha (e não um mosaico, pois nesse identificamos limites e costuras) propulsora da experiência poética – por isso nova e ousada.
Diferentes momentos na poesia de Drummond sugerem certa paridade com a biografia de Carlos (ora infantil, ora adulta e erótica, ora fúnebre), entretanto, a feliz escolha da supressão de uma personagem Carlos e a diluição da palavra poética em “Teresa”, “Arabela”, “a empregada do fiscal de Câmara”, “Márgara”, e outros tantos rostos que apesar de não serem Carlos, são Drummond, acentuam a propriedade mais singular da criação: a universalidade da poesia.
Assim, supor que em “Drummond” a poesia ilustra meramente a vida de um poeta de Itabira é subestimar a potência do que transcende o sujeito. A poesia transcende o sujeito na linguagem que diz do absolutamente particular, por mais paradoxal que possa parecer.
O espetáculo “Drummond” não é uma abordagem técnica e menos ainda historicista da literatura. Transborda do palco uma direção para o poético, isto é, para a criação de sentidos que é infinita – cada fluidor do espetáculo, a partir da sua experiência estética, leva um poeta para casa. Ninguém leva necessariamente a biografia de Carlos. A construção do espetáculo, ao escapar a exatidão da comunicação meramente informativa, se abre, no poético, ao catártico.
Há de se destacar o sutil passo com que se caminha, no espetáculo, do trágico ao cômico e ao erótico, da leitura dialógica do poema ao monólogo assistido e ao contar de histórias. Cada encenação do texto drummondiano é, assim, a abertura de tantas possíveis leituras. Destaca-se, nesse contexto, a interpretação dialógica e cheia de humor de “No meio do caminho” e, de forma sofisticada, porque sutil, sua passagem melancólica à canção bituquiana “Itamarandiba”; em outro momento a passagem do frenesi carnavalesco tão marcado pelas marchinhas ao conflituoso “José”; e ainda o especial tratamento textual, encadeamento poético e trabalho de atuação nos momentos de grande sugestão erótica (“A mão visionária”, “O chão e a cama”, “A puta”, “Cabaré Mineiro”).
Merece destaque a atuação de tantos que, quem sabe, fosse mais fácil não colocar um dos atores em relevo. No entanto, melhor nos contradizermos, pois é necessário por em sobressalto a atuação de Carolina Damasceno – que ainda muito criança participou também da primeira montagem do espetáculo em 1987. Carolina, na recente montagem de “Drummond”, nos presenteia com um dos raros momentos de delicada leveza no teatro recente. A interpretação de “Canção amiga” (música de Milton Nascimento, poema de Drummond), em exata afinação, manejo e dosagem de vibratos, é um desses momentos de respiração, em que o poético faz transbordar sentidos e tudo mais no sujeito faz se calar por um instante.
Outros momentos musicais foram muito felizes, inclusive a trilha, sem dúvida, em relação muito estreita com os textos, com Drummond, a poesia, o trem mineiro, as montanhas e os vales: Heitor Villa Lobos, Egberto Gismonti e Milton Nascimento.
A habilidade corporal, interpretativa, habilidade de representação, os momentos mais musicais ou os momentos de maior silêncio, deixam claro que “Drummond” é resultado de um trabalho árduo, e o palco é sem dúvida a ponta de um iceberg que se constitui de muita pesquisa, leituras, ensaios, desenvolvimento de linguagens, amadurecimento de idéias e construção coletiva. É por restabelecer um vínculo com a tradição do teatro da palavra e da representação – não fragmentária ou nas vias de um retardatário vanguardismo – que o Ponto de Partida, sob a direção de Regina Bertola, se consolida a cada (re)montagem como um coletivo demasiadamente criativo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário