"Ser de Minas
Em Minas se conta causos sobre tudo e para tudo
Em Minas enterra-se o umbigo na roseira ou no curral
Em Minas a raiz é indígena, africana, portuguesa...
Em Minas o mar é de morros e o céu parece estar perto de nossos olhos
E é em Minas que está um Ponto de Partida.
Em Minas tem diamante e tem ouro
Em Minas teve terra explorada e povo escravizado
Em Minas tem queijo, pão de queijo e goiabada
Tem macumba e reza; santo e tambor.
E para contar-nos causos sobre “o círculo do ouro” mineiro, sobre o que se pagava e como se pagava; sobre mortes e medos, encomendas e emboscadas; sobre coragens e cantos, os atores de Barbacena foram a fundo à boca dos mineiros e ouviram o que se pode guardar do que viveu, do que se sonhou, do que construiu numa Minas antes de nós.
Entre sacos e luzes, um bailado se formava entre o cenário e as palavras soavam sempre como poesia, dando sentido ao nosso jeito e ao nosso corpo.
Estivemos por delicadas 3 horas, envolvidos com este universo que ia despindo-nos e nos aproximando do ser mineiro, entre idas e vindas, entre mina e igreja; entre terreiro e ruas; entre ordem e desordem numa cidade que mora dentro de nossos sonhos e imaginários.
As roupas dos atores nos traziam o peso da história, das estradas e dos trabalhos. E as cores o universo do pé no chão, da corte, do calor e até do ouro preto enlouquecido. Este Ouro Preto que deu corpo para a mãe-cidade Maria, que caminhou por estas terras mineiras buscando consolo, filho morte.
Depois de ir a Barbacena no último dia 24 de julho, para compartilhar a estréia do novo espetáculo do Ponto de Partida, muitas histórias ainda me soam aos ouvidos e aos pensamentos. O espetáculo ainda me habita; faz-me ser ainda mais mineira.
A direção corajosa e rigorosa de Regina Bertola dá aos atores a segurança de falar intimamente de si enquanto personagens de uma história real; que se pode viver, reviver e contar.
O canto perfeito vindo de corpos em ação dá ao espetáculo o tom deste estado carregado de musicalidade e poesia, de gentes.
E a despedida não podia ser outra “Longe longe/ Ouço esta voz/ Memória não morrerá”. A voz de Milton se instala em nós como um presente divino cultivado em terras mineiras.
Fazer desta história teatro, neste caso é, sobretudo, ir ao encontro de si mesmo e trabalhar sobre cada detalhe de possibilidades e limites, construindo um rito de passagem para dentro de cada um de nós que ali quis estar para ser Minas.
Um grupo que se fez em Minas, que abraçou os meninos do Vale, que abre escola para a gente da Mata e pode ser generoso e calmo para estrear 4 anos de dedicação, escuta e “esculturação” de um ato teatral - este grupo teve o Ponto de Partida mas não sabia que podia ir tão longe para chegar tão perto de si.
O que se pode dizer, ainda depois de tantas palavras é: Obrigada! E: Recomendado! E que eles venham a Juiz de Fora, nos fazer mais mineiros. É neste círculo, entre alegrias e tristezas, certezas e incertezas, que se pode ainda ser mineiro."
Gabriela Machado Ferreira – Juiz de Fora/MG
terça-feira, 4 de agosto de 2009
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